sábado, 29 de novembro de 2008

Uma Certa LUCY MEIA-CARA

Em meio a tantas atividades que vinha realizando, um convite mobilizou minha alma com especial tormento: fazer Lucy Meia-Cara em "Como Almodóvar", sob a direção de Gláucio Machado. Deixar de ser sua assistente e ser dirigida por ele? Desde o concurso para professor efetivo da Escola de Teatro, onde fui sorteada como atriz para sua prova prática, que desejei estar onde hoje estou, ser atriz em um espetáculo assinado por ele.

A pergunta que logo vai surgir é: então por que o tormento? Não queria deixar de ser assistente e fotógrafa da peça. Sou fã nº 1 de Como Almodóvar. Além disso Lucy é uma dessas personagens que por mais que a gente vasculhe, esmiuce, desenvolva, ainda restará um Hades para percorrer. Sua alma persefônica, cujos duplos se multiplicam e as polaridades possuem colaraturas altamente contrastantes, só vai se apresentando muito amiúde e tão timidamente quanto suas aparições primaveris. Do extremo amor à ira implacável, do floral primaveril ao sufocante enxonfre infernal. Meia-Cara. Meia de uma e Meia de outra. O inteiro não forma um contínuo. Bipolaridade? Dentro da minha ignorância e do meu conhecimento leigo poderia dizer que há uma possibilidade grande, mas não sou especialista para enveredar por essas paragens.

Costumo construir meus personagens como quem tece em telas camadas a partir de sensações, emoções e sinestesia. Mudo pincéis e às vezes nem os uso, trabalho com tintas de naturezas até mesmo antagônicas, mas sempre respeitando as camadas, que se sobrepõem, se ajustam se anulam e vão construindo alguém que não vejo como todo até que se apresente todo. Muitas vezes a vi de fora. Ela, Lucy, andava na minha frente, fumava, filmava, chorava e saía. Algumas vezes a vi por dentro a fazer as mesmas coisas, mas só ficava dentro, não se expandia em direção às musculaturas, peles e voz. Um dia ouvi sua voz, seu ritmo. Mas também se foi.

Não há nada de espiritual, ou extra qualquer coisa neste processo. É a imaginação, imagens em ação, pensamentos em rotação, associações, dissociações. Ações.

No mais, as técnicas em movimento, ajustes técnicos, descobertas... Um dia um movimento de toureiro surgiu (a gente sempre usa os conhecimentos adquiridos durante a vida), afinal Almodóvar é espanhol, tenho ascendência espanhola e estudei a cultura espanhola no Instituto de Letras da UFBA. Pois é. Daí o padrão corporal de Lucy foi construído a partir do estudo dos movimentos dos toureiros, sim toureiros, da movimentação dos homens toreadores e que possibilitou a masculinização dos movimentos de Meia-Cara.

Ela é uma apresentadora de um programa sensacionalista. Pertence ao universo da TV, universo onde as aparências são mais importantes, o que se mostra e como se mostra é mais importante do que o que se é. A verdade é algo tão palpável quanto o mercúrio. E não importa o preço que vai se pagar pra se fazer o programa, o furo de reportagem deve ser caçado. Então Lucy é uma caçadora de furos. Sua arma: a filmadora que não sai da mão, aliás é a extensão de sua mão, de sua visão, de suas perspectivas.
Se fosse psicologizar Lucy sofreria de sérias dores musculares, mas no melodrama, na curva almodoviglauciana não há espaço para dores de intérpretes, afinal a viceralidade pertence ao universo dos personagens e a lógica e técnica ao dos atores.

Entendo Lucy, não sou do seu mundo, nem concordo com ele, mas aprendi com o Mestre Harildo a não julgar minhas personagens. Recebê-las e ser verdadeira, inteira, sem medo dos caminhos que terei de trilhar.

Desejo que Lucy encontre novas formas de amar. Que se deixe ver e veja com todos os olhos. Ela é bela, só não sabe o quanto é e como expressar.

Viver em certos "mundos", cercados de "certas pessoas" não facilita o exercício de ser quem se é. Ao contrário, nos distanciamos, distorcemos nossa auto-imagem e cosntruímos um cartão de visitas que nos aprisiona e nos reduz.

Desafio! Só Gláucio pra fazer isso! Entrar no labirinto dos desejos, descobrir a flor do segredo, falar com ela, descobrir maus hábitos, andar de salto alto, atar-me, ficar à beira de um ataque de nervos, quase ser um matador, agradecer a Kika por ter feito algo para merecer isso e tudo por culpa da minha mãe, enfim...

Coroando tudo isso, pisar no palco do reformado Martim Gonçalves depois de tanto tempo. Adoro mudanças, mas sou saudosista e sinto falta de algumas coisas do Sto Antônio.

Lucy Meia-Cara, espero que possa ganhar sua confiança e venhamos a conversar mais profundamente sobre nossos universos.

Como Almodóvar está no Teatro Martim Gonçalves (Escola de Teatro da UFBA), Canela.

5a a domingo às 20h (até 7 de dezembro).

Apareçam e confiram o mergulho na obra de Almodóvar que gerou o texto escrito por Cláudia Barral, dirigido por Gláucio Machado.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

NÃO PERCA A NOVA TEMPORADA!!!

Teatro Martim Gonçalves
Escola de Teatro da UFBA
Av. Araújo Pinho, 292 - Canela
Salvador - BA
tel: 3283-7862

de 14 de novembro de 2008
a 7 de dezembro de 2008

quinta a domingo
20:00h

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Flagrante

A pureza do amor de Pedro e Amparo

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Com a palavra... o público!

Eu vou publicar um texto que não fui eu que escrevi (e sem pedir autorização... mas com os devidos créditos!)
http://www.fotolog.com/victortito/15747837

Vamos comer Almodóvar!

Terça-feira assistí "Como Almodovar", excelente pedida para soteropolitanos que curtem teatro ou Almodóvar!
Prestigiem, vale muito a pena! Troquem a novela das oito por um espetáculo
P.S: A arte do cartaz não ficou linda?


Vamos comer Almodóvar
[Victor Villarpando]
Ficamos mais autênticos quanto mais nos parecemos com o que sonhamos que somos” - Tudo sobre minha mãe.
Os atores e idealizadores de “Como Almodóvar” fizeram jus à frase do cineasta e foram autênticos. E certamente sonharam muito alto. A peça de conclusão de curso da turma 2007.1 de artes cênicas da UFBA surpreende com um enredo bem elaborado e ágil, personagens bem interpretadas e com uma carga dramática e cômica 100% almodovariana.
O cenário kitsch - um apartamento com cara de conjunto habitacional em país de terceiro mundo - não nega o fascínio pelas “cores de Almodóvar”. Muitos tons fortes, principalmente vermelho-sangue. Na decoração não passam despercebidos: uma escrivaninha de azulejos coloridos, plantas na sala, fotos de Jesus e Maria na parede, um pufe em forma de coração escarlate e um abajour com pernas de dançarina de can can (com vestido carmim, obviamente).
No figurino, também se destacam as cores berrantes, juntamente com as peças espalhafatosas e as combinações improváveis.
O amor, assim como nos filmes do cineasta, que já cantou travestido numa banda de rock, foge ao padrão da sociedade.
Neles, o “amar” tem diversas facetas e não se enquadra no modelo romanticamente idealizado.
Esse sentimento traz problemas, satiriza, dói e alegra. O amor é visto de uma forma marginal. É denso, tenso e principalmente real. É palpável.
O romance de Dolores (Simone Brault) e Pedro (Afrânio Soledade) na peça ilustra bem essa faceta do sentimento. Ele, ex-interno de um manicômio, gordo e feio. Ela, um travesti sem sucesso em suas apresentações, que trabalha como babá de uma amiga paraplégica. Eles experimentam uma paixão ao mesmo tempo que terna, subversiva logo na própria concepção. Eles vão do sexo oral na sala ao “e viveram felizes para sempre”, passando por dificuldades de auto-aceitação e fetiche com fio telefônico.
Assim como na filmografia de Almodóvar, temas polêmicos não faltam na peça. Questões de sexualidade vêm com Lola (Grasca), “senhora” gordinha que fez operação de mudança de sexo e vende drogas (de heroína a morfina e abortivo); com Dolores, a travesti; com Pedro, o louco; com Lucy (Catherine Openheimer), a apresentadora de TV e Amparo (Vitória Bispo), a prostituta, ambas lésbicas. Rosário (Júlia Barreto) que é uma freira que usa drogas, porta armas e aparece grávida, representa as críticas à religião, mais especificamente à Igreja Católica. Isso só para citar alguns dos personagens.
Além de passear pelos mesmos temas dos filmes, a peça é cheia de referências diretas a situações das obras do espanhol.
Cenas como o travesti fazendo sexo oral em Victoria Abril (“De salto alto”), Raimunda guardando o corpo do ex-marido no freezer (Volver), uma freira grávida (“Tudo sobre minha mãe”), a apresentadora de TV que vive das situações esdrúxulas alheias (“Kika”, “Fale com Ela” e “Volver”) e as travestis engraçadas e apaixonantes (não dá para escolher um filme só) fazem parte do time das dezenas de deliciosas referências à obra do diretor.
A peça é tão almodovariana quanto qualquer filme do próprio. Se, conforme dito por ele, seus filmes são um pouco autobiográficos, pode-se dizer que a presença de Pedro Almodóvar está por todo o espetáculo.
SERVIÇO:
O que: “Como Almodóvar”
Quando: Terças e quartas-feiras de novembro
Onde: Teatro Xisto Bahia (Barris)
Horário: 20h
Preço: R$ 10 (inteira)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mais uma vez estamos de volta...novas colegas de elenco, novo espaço e o ânimo de sempre. Gostamos mesmo de fazer esse espetáculo e, por isso, insistimos em compartilhá-lo.
Venham todos... e mais uma vez: "que seja doce".

A Terceira.

Foi a minha décima terceira apresentação.
Era a estréia de Cinara e de Vitória.
Catherine ficou na cochia e nem estreiou ainda.
O Xisto estava lotado (que na temporada também seja assim, meu deus, por favor, por favor, por favor!).
Um camarim só.Pela primeira vez um camarim só para os nove atores (e não é que isso faz a diferença?!).
Eu sempre acho que não vai dar tempo de me arrumar, mas isso é um ritual meu; ritual contraproducente -admito; mas quem vai querer discutir essas indiossincrasias?
Antes da "roda", uns já no palco, outros ainda no camarim se arrumando, eu me dei conta de que estava sentindo um medo da pôrra! Medo de quê meu deus do céu? Porque não era mais aquele medo da estréia de quem ainda não sabe se sabe fazer; era medo de quem gosta de fazer e quer fazer bem feito; medo de quem não pode errar; medo de quem quer fazer o melhor possivel. E aí nessa hora, sentada no sofá lindo do nosso cenário me deu uma vontade irresistível de mudar pra outra profissão, pra não me submeter mais àquele frio que tranca o estômago (mentira!). É um medo contente. Vá entender... mas é sim, um MEDO CONTENTE!
"... e eu sou viciada nele!"

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Como Almodóvar no Festival Nacional de Teatro da Bahia


Nosso espetáculo foi selecionado para a Mostra Universitária dentro do Festival Nacional de Teatro da Bahia (1ª edição). A apresentação será dia 04/11 às 19h no Teatro Xisto Bahia. Essa apresentação será um marco para nosso espetáculo: uma nova Estela (Cynara Paiwa), uma nova Amparo (Vitória Bispo) e a despedida de Lis no papel de Lucy Meia-Cara.
Apareçam!